Por mais que hoje em dia a carta seja um instrumento de comunicação cada vez mais raro, dado o uso da internet, sabemos que a mensagem eletrônica não é capaz de expressar sentimentos, com a mesma intensidade que a carta manuscrita.
Os mais antigos dizem que a mensagem escrita contida dentro de um envelope é praticamente uma autorização do emissor para que o receptor leia a sua alma, ainda que inconscientemente. Há mais dedicação e envolvimento ao escrever uma carta de próprio punho, onde não há corretores automáticos. O escritor se empenha com a ortografia, mas, principalmente, com a caligrafia, pois através dela o destinatário poderá ler além das palavras explícitas, poderá perceber nas entrelinhas o que não foi dito, desvendando os segredos não revelados do emissário.
Os mais românticos acreditam que quando escrevemos é porque sentimos falta de algo, alguém ou alguma coisa. A própria palavra saudade nos remete ao ato de escrever. E tal sentimento é que nos levava a pegar um lápis ou uma caneta para rabiscar bilhetes e escrever para aqueles de quem gostamos.
Muitas cartas revolucionaram a história da humanidade, revelando detalhes de épocas, manias e desejos de grandes personalidades, grandes histórias de amor ou mesmo segredos protegidos. Nosso país, mesmo, teve sua história alterada por uma carta, a carta- -testamento de Getúlio Vargas, anunciando a sua renúncia.
Por outro lado, algumas pessoas tiveram seus destinos mudados por cartas que não chegaram aos seus destinatários, trazendo consequências inesperadas, com momentos que não poderão ser recuperados ou revividos. Alguns conhecidos e lamentados, como o fim trágico de Romeu e Julieta, outros para sempre desconhecidos.
Na mesma proporção que o uso da carta de papel está cada dia mais reduzido, sua relevância vem crescendo sobretudo para curiosos, pesquisadores e colecionadores, tornando- -se, inclusive, objeto de valor, principalmente, quando escritas por personalidades, a exemplo das cartas de Nelson Mandela escritas durante os 27 anos em que esteve preso. Para ele, as cartas eram a conexão que tornaram tangíveis as lembranças da família.
Portanto, independentemente do momento histórico em que foi escrita ou de quem a escreveu, a carta continua sendo um registro significativo para aqueles que valorizam a sensação que se tem ao receber algo ansiosamente esperado, como as cartas escritas pelos meninos presos na caverna da Tailândia. Através das cartas, eles criaram uma ponte de esperança, ligando-os às famílias que ansiosamente esperam os seus retornos.